Se você pensou nas vitrines, você acertou! O espaço é uma grande ferramenta de comunicação, responsável por 70% das vendas de uma loja. Sua história tem início no Império Romano, no século II, com a construção do Mercado de Trajano no reinado de Marco Úlpio Nerva Trajano. O complexo comercial possuía seis andares com 150 lojas organizadas a partir dos produtos que vendiam. Digamos que teria sido o primeiro modelo de Shopping Center que temos hoje. Mais a frente com a Revolução Industrial (século XIX) começaram aparecer por toda a Europa espaços na parte frontal das lojas onde joalheiros e artesãos expunham seus produtos. A partir daí, temos as vitrines, que com passar dos tempos começaram evoluir. Em 1852 apareceram as primeiras lojas de departamentos em Paris, com as vitrines chegando ao nível da rua, a partir desse momento as pessoas saiam de suas casas para aprecia-las (o ato do flâneur), exatamente como nos dias atuais. Uma das curiosidades sobre as vitrines é que antigamente os manequins eram feitos com mais de 100 quilos de cera, que no verão derretiam e no inverno rachavam, com isso teve uma grande
evolução, que hoje são feitos de plástico, tecido e ate mesmo madeira. O que também chama atenção é que não falamos o termo na nossa língua, a palavra “vitrine” é em Francês, no português seria “Vitrina”
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Falar desse espaço sem falar de todo um contexto que é a loja não faz muito sentido, até porque a fachada e a vitrine tem que passar e impactar tudo que a loja quer transmitir, e não é só em relação a decoração, mas sim toda parte estrutural e de fluxos, como nos conta a Juliana Neves, que é Head da Kube Arquitetura, uma das empresas referências em projetos comerciais; “A primeira coisa que a gente faz quando vai fazer um projeto de qualquer tipo de loja par posicionar vitrine, na verdade temos que entender de onde vem a porta da loja e em qual direção se aproxima o cliente dessa marca, entendendo o melhor fluxo a gente posiciona na diagonal ou seja, no ângulo que dê melhor visibilidade para a vitrine em relação ao fluxo. Existe uma métrica no varejo que diz que a cada mil pessoas que passam na porta de uma loja, isso assim não importa categorias shopping e nem nada, só 1% é impactada pela vitrine, depois de 10 pessoas serem impactadas de mil , sete entram, cinco experimentam dois ou três compram. Mas então a grande oportunidade que a gente tem de trabalhar é no impacto da fachada como um todo e Inclusive a vitrine, então essa é a grande oportunidade de ganho de rentabilidade que temos enquanto arquitetos, uma vitrine bem posicionada e eu estou falando de posicionamento e não de cenografia. Uma vitrine posicionada corretamente, ela é mais comercial e se você trabalha bem a cenografia, ela se torna ainda mais comercial, porque ela faz a cabeça do cliente virar e olhar para ela, fazendo com que a gente pare, esse “quebra-molas” é fundamental para converter venda.”
Outro profissional importante para execução de uma boa vitrine são os “VMs” (Visual merchandising) que é a área de estudo do marketing responsável pela promoção do produto no ponto de venda. Vale dizer que a vitrine é um recurso importante do visual merchandising. Os Vitrinistas são os profissionais responsáveis pela elaboração, montagem e decoração das vitrines. No que resulta com que sejam fortes indutoras do comportamento de compra dos clientes. Matheus Felipe que trabalha com visual merchandising e cenografia para uma marca global que começou no Rio de Janeiro, acredita que para um ponto de partida para a criação de uma vitrine é ter tudo muito bem estruturado: “Conhecer o cliente e entender o porquê e para quem a vitrine está sendo construída são pontos fundamentais. Em relação a cenografia, devemos entender que é através dela que o cliente conseguirá se conectar e se emocionar com o tema escolhido. No caso de uma marca de roupas, os manequins são importantes para que o cliente consiga visualizar as peças de forma mais real. Devemos escolher peças fortes e que entre si tenham um ritmo que torne a vitrine mais dinâmica. Um ponto muito importante e que não pode ser deixado de lado é a utilização de materiais responsáveis na criação das vitrines.
O mundo está em um movimento cada vez mais forte de sustentabilidade. As marcas que não se adequarem a esse movimento acabarão se tornando obsoletas. Além disso, partindo desse mesmo ponto, os manequins devem valorizar corpos e etnias diferentes para que o cliente se sinta representado ali dentro. Todos esses pontos bem amarrados, estudo e carinho são a fórmula para uma vitrine check!”. Nos conta Mateus na correria do seu trabalho.
Outro elemento muito forte e que não pode faltar em uma vitrine é a iluminação. Como arquiteto e cenógrafo venho entendendo cada vez mais a importância de uma boa luminotécnica e o quão difere e enriquece o projeto, principalmente se ele for comercial, algo que faz sentido para o cliente (empresário) e o cliente (consumidor).Para Marilda Meneses Arquiteta e Lojista há 33 anos da empresa Arqluz Iluminação, a vitrine é assinatura da loja, onde
deve mostrar produtos diferenciados, e que tragam destaque.
Sobre a importância de uma boa iluminação e seus processos, nos conta, Marilda. ‘’Antes nós tínhamos vitrines com refletores com potência alta para que tivesse um nível de iluminação maior do que o da loja, e que isso ainda pode continuar sendo, existem várias maneiras de você iluminar, inclusive tem que saber o que você pretende passar, no caso nós como uma vitrine de produtos de iluminação, eu não preciso ter uma luz geral na vitrine, porque meus produtos já iluminam por si só, em vitrines de varejo por exemplo, nós devemos trabalhar com luz geral e pontual para dar destaque ao produto que você quer chamar atenção. Uma regra na vitrine é trabalhar com luz geral e depois o pontual sobre os produtos específicos, mas quando temos uma loja que não tem razão para
dar destaque, como por exemplo, uma loja de eletrodoméstico, neste caso você precisa trabalhar com um nível de iluminação mais alta, com iluminação geral. Agora se tem manequins que você necessita dar um destaque ao detalhe na roupa é interessante uma luz de destaque.”
Tive a oportunidade de compor a vitrine da Arqluz juntamente com Marilda na Reabertura da loja após o isolamento social do momento atual que vivemos! A ideia foi deixá-la mais clean com predominância do amadeirado das peças juntamente com os expositores e um ponto de cor que nesse caso foi o verde, trazendo e levando esperança. Toda essa composição compõe com o fundo preto que traz destaques para as peças com design.
Se chegou até aqui, te aconselho observar sempre as vitrines, elas têm muito que transmitir!
Rafael Bittencourt é Baiano, nascido e criado em Salvador/BA, apaixonado por toda forma de arte.
Escolhi ser Arquiteto pela diversidade que essa profissão me proporciona, que envolve pessoas, sonhos e realizações. Sempre quis e quero envolver essas diversidades em algo que faço. A cenografia veio como um plus a mais no meu conhecimento e no meu modo de ver o contexto em que me encontro, seja ele urbano, residencial, comercial ou até a própria cena de eventos e espetáculos…
Além de executar projetos de Arquitetura e Cenografia, Rafa é criador do projeto #Deuinsight e da pagina @rb_studiooficial, ambas tem o intuito de valorizar profissionais de arquitetura, cenografia e artes no geral.