Temida pelos universitários, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) vai muito além de padronizar artigos e teses. Na construção civil, as Normas Brasileiras, conhecidas popularmente como NBRs, indicam os caminhos e as metodologias a serem seguidas para a realização correta dos serviços, sempre priorizando a segurança.
Quando tratamos de revestimentos cerâmicos, alguns pontos merecem atenção, como a resistência ao escorregamento, a impermeabilização, o armazenamento das peças, o assentamento, e por aí vai! Para garantir uma obra correta e segura, os profissionais precisam dominar todas essas questões técnicas.
A seguir, apresento de forma acessível as principais normas técnicas para revestimentos cerâmicos, que abordamos de forma aprofundada na Escola do Acabamento!
ARMAZENAMENTO
Segundo as NBR 9817 e NBR 13753, as placas cerâmicas devem ser armazenadas em local plano e firme, protegidas contra intempéries e em pilhas com altura máxima de 2 m. Nas lojas, as placas são estocadas em grupos, de acordo com as dimensões de fabricação, tonalidade do produto e/ou classe. Na casa do cliente, elas devem ser retiradas de sua embalagem apenas antes do assentamento. Durante a estocagem e o manuseio das placas, é fundamental evitar choques, contato com materiais abrasivos ou contaminantes.
ASSENTAMENTO
Diversas normas regem o assentamento correto das placas cerâmicas. Segui-las é fundamental para evitar desplacamento, movimentação ou perda completa das peças.
A NBR 13753 recomenda que o contrapiso ou a camada de regularização sejam executados pelo menos sete dias antes do assentamento das placas cerâmicas. A superfície da base não deve apresentar áreas muito lisas ou muito úmidas, manchas de ferrugem, eflorescência, bolor, pulverulência ou impregnação com substâncias gordurosas. As superfícies muito lisas, como as de concreto impermeável, podem ser picotadas ou escarificadas, se necessário.
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Duas técnicas podem ser utilizadas: colagem simples e dupla colagem. Segundo a mesma norma técnica, é obrigatória a aplicação de dupla colagem quando o revestimento tiver garras em seu tardoz (verso da peça) com profundidade acima de 1 mm e/ou uma área superior a 900 cm². Na dupla colagem a argamassa é aplicada tanto no substrato quanto na própria placa.
ARGAMASSA
Para o assentamento de peças cerâmicas, é possível utilizar argamassa convencional ou colante. No primeiro caso, a NBR 9817 recomenda que o assentamento seja feito sem interrupções, iniciado pelos cantos ou nos locais onde serão formadas juntas de movimentação.
A argamassa convencional é aplicada em etapas, de acordo com a velocidade de colocação das placas cerâmicas e com o início de pega do cimento. As placas cerâmicas, previamente umedecidas, são forçadas uma a uma contra a camada de assentamento, com o auxílio de um martelo de borracha.
No assentamento com argamassa colante, as garras do tardoz são preenchidas com o produto. Para placas cerâmicas menores que 900 cm², a NBR 13753 recomenda:
- Espalhar e pentear a argamassa colante com desempenadeira;
- Aplicar cada placa cerâmica sobre os cordões de argamassa ligeiramente fora da posição, pressionando e arrastando-as perpendicularmente até sua posição final;
- Aplicar vibrações manuais com a ponta dos dedos quando a placa estiver em sua posição final, de modo a obter maior acomodação possível.
Caso haja desnível no contrapiso, pode-se fazer a regularização com o uso de argamassa colante, desde que o desnivelamento máximo seja de 1 cm, executado em 2 camadas de 0,5 cm cada.
REJUNTE
Com a popularização dos grandes formatos, muitos profissionais acreditam que qualquer peça cerâmica pode ser assentada em junta seca, o que está longe de ser a realidade. A NBR 13.753 também trata dos espaçamentos e juntas entre as placas, defendendo sua importância para o alinhamento, acomodação e vedação das peças.
Obviamente, a ABNT não define as dimensões dessas juntas, ficando a critério do fabricante especificá-las em seus manuais de instalação. No geral, as juntas variam conforme as dimensões das peças:
- 5×5 cm : 3 mm
- 10×10 cm : 3 mm
- 15×15 cm : 3 a 5 mm
- 20×20 cm : 3 a 5 mm
- 25×25 cm : 3 a 5 mm
- 30×30 cm : 5 a 7 mm
- 40×40 cm : 6 a 8 mm
As juntas devem ser previstas já na fase de projeto, permitindo o cálculo correto de materiais. Para a execução correta, recomenda-se utilizar os espaçadores. As juntas de assentamento devem ser preenchidas com o rejunte recomendado pelo fabricante.
CAIMENTO
Não há nada que tire mais um cliente do sério do que o caimento errado do piso. Seja no box do banheiro ou na varanda, ninguém merece água empoçada. As NBR 9817 e NBR 13753 estabelecem que o piso de ambientes não-molháveis, como quartos e salas, é executado em nível ou com caimento máximo de 0,5%. Já o piso interno de ambientes molháveis, como banheiros, cozinhas, lavanderias e corredores de uso comum, é executado com caimento de 0,5% em direção ao ralo ou à porta de saída, sem exceder o valor de 1,5%. Nos boxes dos banheiros, o caimento ideal em direção ao ralo é entre 1,5% e 2,5%.
IMPERMEABILIZAÇÃO
A NBR 9575 diz que todo piso interno sujeito a lavagens deve ser estanque à água. A impermeabilização pode ser feita de diversas formas, incluindo mantas, membranas, argamassa e cimento polimérico.
As impermeabilizações com membranas ou mantas asfálticas ou de polímeros são aplicadas sobre a camada de regularização; no encontro do piso com a parede e no box do banheiro. Neste caso, a impermeabilização deve prolongar-se no mínimo 100 mm acima do nível do piso acabado.
Se a camada de impermeabilização for feita de argamassa ou cimento polimérico, deve-se assegurar a continuidade entre a impermeabilização do piso e a da base da parede, sem o emprego de aditivos diretamente na argamassa de regularização, de modo a não prejudicar a aderência das placas cerâmicas.
COEFICIENTE DE ATRITO
Quando falamos em segurança dos usuários, o coeficiente de atrito deve ser levado em consideração ainda na escolha do revestimento. Este é o parâmetro utilizado para medir a resistência do revestimento ao escorregamento. A lógica é simples: quanto maior o atrito, menor o escorregamento. Assim, conseguimos dividir os pisos conforme o risco que eles apresentam a acidentes quando molhados.
A NBR 13.818 estabelece que em áreas que requeiram resistência ao escorregamento podem ser utilizados produtos cerâmicos com atrito igual ou superior a 0,4. Esta informação deve ser encontrada na descrição de todos revestimentos cerâmicos:
- Pisos com coeficiente de atrito < 0,4: recomendados para instalações normais, que não demandam maiores cuidados com segurança;
- Pisos com coeficiente de atrito entre 0,4 a 0,7: recomendados para locais onde se requer resistência ao escorregamento;
- Pisos com coeficiente de atrito > 0,7: recomendados para locais onde o risco de escorregamento é muito intenso.
Neste tópico, as piscinas merecem uma norma só para si. Nas bordas, a NBR 9818 exige que os revestimentos sejam antiderrapantes, laváveis e não agressivos ao contato. Para regiões com profundidade inferior a 20 cm, as peças devem ter um coeficiente de atrito igual ou superior a 0,4. Em profundidade superior a 60 cm, não há restrição quanto ao atrito do revestimento, desde que não cause desconforto, danos ou ferimentos aos usuários nas condições normais de uso.
PEI
Quando eu ainda trabalhava como vendedora de revestimentos, o principal indicativo para resistência ao tráfego e abrasão de peças cerâmicas era o PEI, regido pela NBR 13818. Na realidade, a sigla significa Porcelain Enamel Institute — Instituto de Esmalte de Porcelana. Ela é responsável por regulamentar a classificação do porcelanato conforme a resistência do esmalte superior à abrasão. Hoje, as indicações de uso costumam estar mais em evidência do que esta classificação, mas algumas marcas ainda utilizam o indicador.
- PEI 0: uso exclusivo em paredes;
- PEI 1: tráfego baixo, como banheiros e dormitórios sem portas para o exterior;
- PEI 2: tráfego médio, como ambientes residenciais, exceto cozinhas, escadas e entradas;
- PEI 3: tráfego médio-alto, como ambientes residenciais, incluindo terraço;
- PEI 4: tráfego alto, como ambientes residenciais de tráfego intenso, locais públicos com tráfego moderado e áreas internas de uso comercial, como entrada de hotéis, lojas, etc;
- PEI 5: tráfego altíssimo, como áreas públicas, internas e externas com alto tráfego como shopping centers, aeroportos, etc.