Em meio a várias moradias de tijolos aparentes em Aglomerado da Serra, maior favela de Belo Horizonte, a casa de Kdu dos Anjos pode até passar despercebida, mas é finalista na categoria Casa do Ano, no prêmio internacional ArchDaily. A votação é aberta ao público e o projeto é um dos favoritos para a primeira colocação.
Batizada de Casa no Pomar do Cafezal, a obra foi liderada pelos arquitetos Fernando Maculan e Joana Magalhães, parte do coletivo Levante, do qual o morador é fundador. Com cerca de 66 m², ela utiliza os mesmos materiais de todo o complexo, mas de uma forma distinta.
Os tijolos, por exemplo, são assentados na horizontal, deixando exposto seu lado frisado ao invés do furado, algo pouco comum, uma vez que assentar o bloco em pé é mais rápido e faz com que o material renda mais.
“Por serem horizontais, dão forma a uma parede mais larga e com maior inércia térmica, o que se traduz em um ambiente que vai demorar mais a aquecer quando há temperaturas elevadas e a preservar um pouco mais o clima interno quando está frio,” explica o arquiteto Fernando Maculan.
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A fachada não é pintada e as tubulações de água são externas, para evitar vazamentos. No andar superior, há uma varanda com cobertura de troncos de eucalipto e, na inferior, um pequeno puxadinho. Com amplas janelas de vidro, ela oferece uma boa visão do entorno.
“O projeto da casa representa um modelo construtivo que usa materiais próprios da periferia, com uma implantação adequada e atenção à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com grande qualidade ambiental”, destaca Fernando.
Tirar o projeto do papel, contudo, envolveu algumas dificuldades. A casa que poderia ser construída em seis meses, levou dois anos, sendo finalizada em 2020 com um custo final de R$150 mil, valor superior ao estimado devido a danos decorrentes das chuvas.
As fotos do projeto foram descobertas pela equipe do Archdaily nas redes sociais do arquiteto e, posteriormente, selecionadas para o concurso. Em 2022, o projeto também ficou entre os 50 mais interessantes do Brasil.
“Inacreditável gente! Meu barraco está concorrendo mundialmente a Casa do Ano, pelo Archdaily. A Casa do Pomar, ou Barraco do Kdu, está em um beco, em uma rua do serrão, que não tem CEP, água encanada nem energia legal, o bairro foi construído na tora pelos moradores”, escreveu Kdu em seu Instagram, à época da indicação ao prêmio internacional Archdaily.
Agora, os cinco projetos finalistas seguem para a votação do público, disponível até o dia 23 de fevereiro no link.