Casinha de vila erguida na década de 1950, projeto de reforma realizado pelo arquiteto Paulo Tripoloni condensou passado e presente como forma de enaltecer arquitetura da época e agregar modernidade à vida dos moradores
A casinha de vila é uma combinação entre a saudosa arquitetura da década de 1950 com as inovações que marcam os projetos contemporâneos, mas que respeitam e, sobretudo, valorizam os traços da época: foram com essas premissas que o arquiteto Paulo Tripoloni, à frente de seu Atelier Arquitetura homônimo, conduziu a reforma de uma casinha, situada em uma charmosa vila portuguesa, localizada no bairro do Cambuci, na capital paulista.
Com 80m², o profissional trabalhou em um projeto que respeitou a história da edificação e, ao mesmo tempo, a adaptou ao estilo de vida contemporâneo. “Embora estejamos em um contexto totalmente diferente dos modos de vida daquela época, mostramos que é plenamente possível preservar a identidade de uma edificação ao passo que ela passou a oferecer aas demandas do contexto atual”, diz o profissional que também é professor de arquitetura em uma universidade de São Paulo.
Desde o início, o conceito do projeto foi claro: conceber uma residência mais integrada e aconchegante, porém sem perder a conexão com o entorno e a memória afetiva do local. A fachada original foi mantida, mantendo a harmonia com a estética da vila, enquanto as intervenções arquitetônicas ficaram reservadas ao interior da residência. Essa decisão do arquiteto garantiu que ela se mantivesse visualmente coerente com a vizinhança, sem abrir mão das modernizações necessárias para o conforto dos moradores.
Logo na entrada, a sala se revela como o coração do lar, com um espaço fluido que favorece a circulação e integração entre os ambientes. A transição para a cozinha é marcada pela simplicidade e funcionalidade e, com um layout linear, ela ocupa apenas uma das laterais, deixando o restante do ambiente livre e conectando-o diretamente ao pátio descoberto que se revela como um oásis em São Paulo. “Essa conexão entre o antigo e o moderno promove essa atmosfera de sentir-se no aconchego da arquitetura de outrora e ainda assim desfrutar dos recursos atuais que fazem sentido no tempo presente”, avalia.
O jardim, ponto alto do projeto, passou por uma reconfiguração significativa, fruto da demolição de uma antiga edícula que deu lugar a um deck de madeira que se transmutou em um verdadeiro refúgio verde, com direito à chuva externa. Plantas nativas e árvores frutíferas, como jabuticabeira, pitangueira e limoeiro se somam no acolhimento que entregam a sensação de se estar em uma pequena floresta urbana. “A ideia era transformar o quintal em um bálsamo para os moradores que podem desfrutar de momentos de lazer ao ar livre”, recorda-se Paulo.
O andar superior se manteve com a constituição original de dois quartos. No cômodo dos fundos, a substituição da janela por uma porta-balcão e a adição de uma varanda trouxeram uma nova perspectiva ao ambiente, ampliando a sensação de espaço e luminosidade. Além disso, ela serve como cobertura para a cozinha no andar inferior, evidenciando o cuidado do arquiteto ao integrar funcionalidade e estética.
Uma das grandes inovações do projeto foi a criação de um atelier suspenso, conectado à casa principal por uma passarela. Este espaço, para que o morador possa exercer suas atividades profissionais, é outro exemplo de como o antigo e o moderno podem coexistir em harmonia e, para tanto, Paulo constituiu uma estrutura metálica leve.
Esse anexo denota como uma intervenção bem planejada pode transformar e otimizar espaços, mesmo em terrenos compactos. A passarela que conecta o morador à casa não só agrega funcionalidade, como também cria uma experiência visual interessante, permitindo a vista do jardim e a integração às áreas de convivência de forma orgânica.