14 dezembro 2023 
Ladrilhos Hidráulicos: Em visita à fábrica da Dalle Piagge, pude conferir em primeira mão a fabricação artesanal do revestimento
A Dalle Piagge produz ladrilhos hidráulicos à moda italiana (Foto: Dalle Piagge / Divulgação)
Mesmo antes de cursar design de interiores, sempre tive um grande fascínio por ladrilhos hidráulicos. Com estampas florais, geométricas e super coloridas, eles nunca passam despercebidos e são peças carregadas de história. Parte deste afeto instantâneo deve-se ao seu processo de fabricação, ainda hoje, artesanal.
Os ladrilhos hidráulicos surgiram em meados do século 19, como uma alternativa ao uso de pedras naturais, como o mármore, e também à cerâmica, que possui um longo período de cura. As peças são produzidas à base de cimento branco, quartzo, diabásio e pó-de-pedra, que podem ser coloridos em até cinco tons, permitindo diversas combinações de cores.
O movimento modernista também contribuiu muito para o sucesso do revestimento, empregado em murais e mosaicos artísticos para a criação de desenhos super complexos. Muito presente nas mansões da nobreza europeia, acredita-se que os primeiros ladrilhos hidráulicos chegaram ao Brasil na época da imigração italiana, nos anos 1920.
Os ladrilhos hidráulicos não precisam, necessariamente, ser super coloridos e cabem em todos os estilos de decoração (Foto: Dalle Piagge / Divulgação)
Quando deixou a pequena cidade de Lucca, na Itália, Federico Dalle Piagge trouxe na mala o que precisava para exercer o ofício de ladrilheiro: muitos moldes de ferro com os mais elaborados desenhos. Tempos depois, em 1922, ele abriu sua primeira empresa e começou a produção no Brasil com a mesma técnica de sua terra natal.
Foi nesse galpão que o bisneto Marcello Ruocco teve contato com o revestimento. “Cresci acompanhando a confecção dos modelos. Por isso, mesmo após encerrado o negócio, procuravam por mim em busca dos ladrilhos hidráulicos”, explica. Numa conversa com o primo Divo Picazio Júnior, a reabertura da fábrica foi firmada em 1997. O nome, Dalle Piagge, veio como homenagem ao bisavô.
Processo de fabricação
Os ladrilhos da Dalle Piagge são produzidos em diferentes formatos (Foto: Dalle Piagge / Divulgação)
Recentemente, tive a oportunidade de visitar a fábrica da Dalle Piagge, na Vila Leopoldina, em São Paulo, para conferir de perto a fabricação de um ladrilho hidráulico.
Na primeira etapa, os pigmentos de tinta são colocados no molde de ferro conforme o desenho escolhido pelo cliente. Primeiro é feito o desenho para, só então, entrar com a base de cimento e areia. Depois, a fôrma é fechada e prensada manualmente. Quando retiradas da fôrma, as peças são armazenadas por 24 horas em prateleiras, como uma verdadeira biblioteca de revestimentos.
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E, se você sempre se perguntou por que “hidráulico”, essa etapa da fabricação traz a explicação. Após a secagem, a peça é submersa em um tanque com água para garantir resistência ao revestimento. Este processo dura em média 12 horas.
Depois, as peças são direcionadas para as prateleiras, onde toda aquela água escorre e ocorre outro processo de secagem. Para finalizar, os ladrilhos são embalados e direcionados às obras para serem a peça chave de diversos projetos. Dá para entender porque chamamos este processo de artesanal, né?
Sempre que meus alunos questionam o custo final do ladrilho hidráulico, para além das características técnicas do revestimento, me sinto obrigada a trazer toda essa história e esse processo de fabricação. Não estamos falando de uma produção em grande escala, mas de uma peça única, carregada de valor afetivo. Se o cliente consegue se identificar com isso, certamente, o arquiteto ou designer de interiores também.
