Os blocos de vidro estão voltando – e você deveria agradecer por isso! Assim como vimos acontecer com outros revestimentos datados, como o taco de madeira, o caquinho e o granilite, o bloco ou tijolo de vidro tem despontado em projetos residenciais e arquitetônicos. E ele tem tudo a ver com este nosso Brasil e seu solzão.
Essencialmente, o bloco de vidro é feito a partir de restos de vidro, sílica, carbonato de sódio e calcário. Com esses compostos são feitas duas peças de vidro, fundidas entre si em altíssima temperatura para criar uma camada de ar isolada das variações externas. Uma característica interessante é que ele é capaz de transmitir a luz natural, mas devido à torção em seu interior, parte dos raios são desviados, oferecendo privacidade aos ambientes.
Quem é mais velho pode até encarar com maus olhos o material. Afinal, ele caiu em desuso nas casas brasileiras por conta de vários problemas com vazamentos e infiltrações. Mas, desde então, a tecnologia evoluiu o suficiente para reposicioná-lo como tendência.
Antes de concluirmos se vale ou não o investimento, vamos conhecer a fundo a história dos blocos de vidro.
História do produto
A história do bloco de vidro começa muito antes de sua patente em 1907. Séculos antes, os navios já utilizavam o mesmo princípio de iluminação com prismas de vidro no convés, que permitiam a passagem de luz. Essa era uma estratégia importante para evitar o uso de velas e lâmpadas de querosene, que representavam um alto risco de incêndio em uma estrutura de madeira.
Mas foi só no início do século 19 que algumas cidades começaram a incorporar os prismas em seus pavimentos. Finalmente, em 1907, Gustave Falconnier patenteou o primeiro bloco de vidro oco, chamado Falconnier Hollow Glass Bricks. Ao contrário do tijolo de vidro moderno, fabricado pela combinação de duas peças de vidro, os Falconnier Bricks eram ocos somente onde o vidro era soprado, tornando-o menos resistente e durável.
Em grande parte, esses tijolos eram aplicados na construção de estufas e como preenchimento para edifícios. O bloco de vidro como conhecemos hoje não foi uma invenção isolada, veio justamente do refinamento deste material.
No início do século 20, os blocos de vidro já eram tidos como o futuro da arquitetura. São desta época o Pavilhão de Vidro de Bruno Taut na Exposição Werkbund (1914), a Maison de Verre de Pierre Chareau e Bernard Bijvoet (1928) e o edifício Owens-Illinois, construído para a Exposição Chicago Century of Progress (1933).
Foi por volta desta época que os blocos de vidro chegaram ao Brasil, onde fizeram sucesso durante as décadas de 30, 40 e 50. A explicação para o interesse dos arquitetos é compreensível: que material valorizaria mais a luz natural única de um país tropical como o nosso, banhado pelo sol?
No entanto, com o passar do tempo, a vedação ineficiente dos blocos de vidro começou a causar vazamentos e infiltrações, caindo em desuso por um curto período. Como sempre digo, a arquitetura é cíclica e, em 1977, um artigo do The New York Times escrito por Carter B. Horsley proclamava “o auge dos glamorosos tijolos de vidro”.
Antes um material de segunda categoria, os tijolos de vidro passaram a ganhar aceitação entre arquitetos em projetos residenciais e de restaurantes por sua translucidez, privacidade e interesse visual. O uso generalizado deixou o revestimento datado, associado a projetos dos anos 80, uma estética que poucos pareciam interessados em reviver.
Até o presente momento! Com a potência do vintage e do retro, acredito que estamos assistindo a mais um renascimento dos blocos de vidro, dessa vez em propostas mais modernas e minimalistas, aplicados em divisórias, banheiros, bares e restaurantes industriais e até fachadas experimentais.
Vantagens e desvantagens
Ah Lilian, mas você recomenda investir em uma tendência que já se mostrou passageira mais de uma vez? Essa é uma decisão muito particular, mas se pudesse dar um conselho seria: estar em alta não deveria ser o principal critério de escolha de um arquiteto ou designer de interiores.
Revestimentos são feitos para durar e, por isso, sua escolha deve ser baseada no gosto do cliente, no contexto do projeto e na funcionalidade. Os blocos de vidro são uma excelente escolha para quem deseja valorizar a iluminação natural, sem abrir mão da privacidade. De longe, este é o maior trunfo do material, motivo pelo qual ele tem feito tanto sucesso em banheiros.
Normalmente, uma parede de blocos de vidro é composta por uma matriz dessas peças idênticas. Eles são relativamente fáceis de montar e podem ser fixados em conjunto com vários métodos diferentes, sendo o mais comum o uso da argamassa à base de cimento Portland, com hastes de reforço em aço.
Isso é o suficiente para garantir uma vedação superior às esquadrias de portas e janelas a que estamos acostumados. Outra vantagem sobre as janelas comuns é a segurança, já que uma parede de vidro é um obstáculo bem maior a invasões.
Mas se puder arriscar o motivo pelo qual os blocos de vidro estão de volta, eu apostaria em seu viés sustentável. Os blocos de vidro são extremamente eficientes em termos energéticos. Seus centros ocos garantem um isolamento térmico semelhante às janelas de vidro duplo, enquanto a argamassa bloqueia a infiltração de ar melhor do que os caixilhos das janelas tradicionais. Dessa forma, economizam energia não apenas difundindo a luz natural e reduzindo a necessidade de iluminação artificial, mas sendo herméticas e, assim, reduzindo correntes de ar ou transferências de calor.
Vantagens não faltam e se você aprecia essa estética, pode se jogar sem medo! Agora, se a ideia é um projeto atemporal, talvez, os blocos de vidro não sejam a melhor opção. Já vimos que, diferente da madeira e do porcelanato, eles possuem um histórico conturbado e não sabemos qual será a opinião popular daqui 10 anos.
Vale ressaltar que a parede de blocos de vidro é um elemento marcante que deve ser muito bem pensado em conjunto com os demais materiais do projeto. E, caso opte pelos modelos com cor, lembre-se de não utilizá-los na fachada, pois tendem a desbotar quando expostos a luz solar direta.