Você sabe quem é Lina Bo Bardi? A arquiteta ítalo-brasileira é considerada um dos principais nomes da arquitetura nacional. Batizada Achillina Bo, ela nasceu no dia 5 de dezembro de 1914, em Roma, mas mudou-se para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, onde viveu até falecer em 20 de março de 1992.
Formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma, durante a década de 1930, trabalhou com Giò Ponti e depois fundou seu próprio escritório em Milão. Contudo, durante a Segunda Guerra Mundial, enfrenta uma grande escassez de serviços, chegando a ter seu escritório bombardeado em 1943.
Em 1946, casou-se com o jornalista e historiador Pietro Maria Bardi, com quem veio ao Brasil, onde se naturalizou em 1951. “Lá só havia destruição, e eu queria construir”, disse em uma de suas entrevistas. “O que nos empolgou a vir para o Brasil foi saber, na época, da arrancada da arquitetura moderna por aqui. Eu me senti em um país onde tudo é possível; aqui reencontrei as esperanças perdidas nos dias de guerra”, completa.
Chegando ao Brasil, instalou-se em São Paulo, onde em 1951 construiu a Casa de Vidro, localizada no Bairro Morumbi. Considerado um dos projetos pioneiros do modernismo no Brasil, a Casa de Vidro é o projeto que melhor revela o estilo de Lina Bo Bardi. Foi lá que ela e o marido, Pietro Maria Bardi, viveram por cerca de 40 anos.
Suspensa por finos pilares, a casa é invadida pelas plantas que a cercam, integrando o interior ao exterior. Chamam atenção os detalhes, como as maçanetas em forma de chifre e o uso do mesmo azul nas pastilhas de vidro, que revestem o piso da sala, na pintura dos pilares e nas bases de móveis tubulares: mesas, poltronas e cabeceira da cama.
No País, Lina desenvolve uma imensa admiração pela cultura popular, sendo esta uma das principais influências de seu trabalho. Inicia, então, uma coleção de arte popular e sua produção adquire sempre uma dimensão de diálogo entre o Moderno e o Popular. Lina fala em um espaço a ser construído pelas próprias pessoas, um espaço inacabado que seria preenchido pelo uso popular cotidiano.
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Ao passar pelo terreno que hoje recebe o MASP, Lina imediatamente visualizou um grande Museu capaz de receber o acervo crescente do antigo Museu de Arte de São Paulo. Após algumas negociações, saiu do papel o projeto de Lina: um museu com quatro grandes colunas vermelhas, uma pinacoteca que coloca as obras em cavaletes transparentes e uma grande praça de convívio para que a cidade possa se encontrar, o hoje famoso “vão do MASP”. O projeto inicial foi concluído em 1957, mas o início das obras só se deu em 1961.
No final dos anos 1950, aceita um convite de Diógenes Rebouças e vai para Salvador dar uma série de palestras. Ali, inicia uma temporada na Bahia, onde dirige o Museu de Arte Moderna, faz o projeto de recuperação do Solar do Unhão e permanece até 1964.
No final da década de 1970, Lina executou uma das obras mais paradigmáticas, o SESC Pompeia, que se tornou uma forte referência para a história da arquitetura na segunda metade do século XX.
Como o grande objetivo era promover o encontro e o convívio entre as pessoas, teve a ideia de criar uma rua aberta que atravessa o complexo de ponta a ponta, ao mesmo tempo que reúne todos os presentes. Outro marco do prédio são as janelas aparentemente disformes, mas que imitam as formas das batatas brasileiras, que surpreenderam Lina quando ela chegou ao Brasil.
Lina volta a Salvador na década de 80, período de redemocratização do país, quando elaborou projetos de restauração no centro histórico de Salvador, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, em parceria com os arquitetos Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki.
Além de seus projetos arquitetônicos, Lina manteve um trabalho intenso até o final de sua vida. A originalidade, defendida por ela, pode ser vista em peças de design que carregam sua assinatura, como a linha de cadeira e mesa Girafa (1987), fabricada pela Marcenaria Baraúna, e a poltrona Bowl (1951), relançada com produção limitada de 500 peças pela marca italiana Arper.
Lina faleceu em 1992 na Casa de Vidro, deixando incompleto seu último projeto, a reforma da Prefeitura de São Paulo. Após a morte de Pietro, em 1999, a Casa de Vidro foi conservada pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi com os ambientes quase intactos: os mesmos acabamentos, a maioria dos móveis desenhados por ela e as obras de arte.
Em 2021, tornou-se a primeira arquiteta brasileira a receber – in memoriam – o Leão de Ouro Especial pela sua incrível trajetória e todo o conjunto de sua obra, durante a 17ª Mostra Internacional de Arquitetura de La Biennale di Venezia.