Adriana Varejão é uma das artistas plásticas brasileiras de maior destaque na cena contemporânea, tanto no Brasil, quanto no exterior. Filha de um piloto da aeronáutica e de uma nutricionista, ela nasceu em 11 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro, onde reside e trabalha até hoje.
Sua história com as artes começou muito cedo, ainda nos anos 80. Entre 1981 e 1985 frequentou cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. “Quando entrei para um curso de pintura, nem sabia que alguém poderia viver pintando, que isso poderia ser uma profissão. Lembro-me que entrei na casa do meu professor de pintura e pensei: “Nossa, ele é um pintor, ele vive de pintura”. E foi uma surpresa para mim, não tinha familiaridade com esse ambiente, muito menos o ambiente de arte contemporânea”, conta a artista em entrevista ao SaraivaConteúdo.
“As coisas foram acontecendo naturalmente, nunca planejei muito, nunca coloquei minha vontade, meus planos na frente do que estava acontecendo, tipo “vou ser uma artista profissional”. Nunca teve esse momento. Fui fazendo cursos de pintura por curiosidade sobre o assunto. Nessa época fazia faculdade de engenharia e aí a pintura foi me tomando, tomando espaço, fui me dedicando cada vez mais a isso e, naturalmente, comecei a expor numa galeria”, relembra.
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Sua primeira exposição individual aconteceu em 1988, na galeria Thomas Cohn, quando tinha acabado de completar 24 anos. A partir de então, sua biografia traz consecutivas exposições individuais e coletivas. Na década de 90, destacam-se suas participações na Bienal de São Paulo, em 1994 e 1998; nas Bienais de Havana (1994), Johannesburgo (1995) e Liverpool (1999).
Suas obras integram as coleções dos principais museus do mundo e são recordistas em casas de leilão de Londres e Nova York, atestando o reconhecimento internacional. No Brasil, Adriana ganhou um pavilhão inteiramente dedicado a seu trabalho no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
“Não pensava se conseguiria ou não viver da própria arte. Eu estava vivendo, fazendo as coisas, descobrindo a minha linguagem. Não estava preocupada se ia ou não expor, quanto ia ganhar, qual ia ser meu galerista. Falo isso para os estudantes quando vou dar palestras. Vejo as pessoas muito preocupadas com o resultado. Não é por aí. É preciso apenas encontrar sua voz. Nunca é fácil. É muito sofrimento. Cada vez que você olha uma tela em branco acredita piamente que não vai ter mais ideias, que vai ficar bloqueada. O processo de criação é dolorido”, analisa Adriana.
Obras
Sua obra reproduz elementos históricos e culturais, com temas ligados à colonização, ao barroco e à azulejaria. O corte, a rachadura, o talho e a fissura são recorrentes, além da visceralidade e da representação da carne. Apesar de remeter ao barroco, é extremamente contemporânea em seus excessos, de tinta e informações.
“É possível dizer que os azulejos pavimentam, ladrilham e preenchem a obra de Adriana Varejão. Pavimento no percurso; pavimento que dá liga a esses tecidos de histórias que vão se desnovelando a cada nova fase, a cada desafio. Adriana, tal qual um bricoleur, coleta fragmentos de histórias e os traduz em outros. Como os antigos relojoeiros, a artista parte do que encontra e por aí desenvolve seu projeto”, afirma Karl Erik Schøllhammer, em trecho do livro “Entre Carnes e Mares”.
“Adriana parte do que tem: espalha, remonta e cria, tendo por base narrativas que, pacientemente, coleta, relê, refaz. Sabemos que todo tradutor é um traidor, e Adriana age à moda das caixinhas chinesas. Abre uma caixa dentro de outra, e faz de sua obra um mar de histórias”, completa Karl.
Entre carnes e mares é o livro mais completo sobre a obra da artista plástica carioca, contendo mais de 170 reproduções de suas pinturas, além de fotografias e instalações. Recomendo a leitura para quem deseja conhecer a fundo seu trabalho!