Por Cilla Bonfim
Alguma vez na sua vida você já deve ter visto pinturas murais em visitas à museus, casas antigas com heranças européias ou até em pinturas em quadros com características barrocas e outras vertentes do classicismo nas artes. Essas lindas imagens que simulam paisagens das mais variadas como jardins, quintais e ambientes urbanos também são usadas para retratar o interno de um espaço. Nos tetos, elas geralmente representam o céu, em algumas ocasiões, acompanhadas de figuras angelicais e religiosas. Na verticalização, são pintadas de forma a parecerem ornamentos que compõem as paredes internas de um ambiente como: roda teto, mísulas, lesena, emblemas heráldicos, roda meio e rodapé. A técnica genial usada por trás destes efeitos ilusórios se chama Trompe l’oeil (vocábulo francês; sua tradução aproximada em português quer dizer “enganar os olhos”) e foi popularizada no período barroco, porém já era muito usada pelos romanos e gregos na antiguidade classica que data no século VIII. Esta técnica consiste na utilização de jogos de luz, sombra e perspectiva para criar um ambiente tridimensional usando somente 2 planos, dando a impressão de haver um ambiente construido dentro do outro, quando em grande escala.
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Tomando como exemplo as residências em Pompéia, muitas habitações eram pequenas e o uso do Trompe l’oeil era uma forma de trazer a paisagem para dentro de casa. A retratação de janelas abertas para campos ou ruas era comum para aproximar a sensação de amplitude e integração com o externo. Grandes espaços naturalistas ou a vista de outras construções com pessoas dava vida as casas sem janelas, já que os lares só possuiam abertura de portas e a única entrada de luz natural vinha pela presença do atrio, que servia como um elo entre todos os cômodos da casa.
A figura acima é uma representação de uma casa romana e suas divisões. As casas não possuiam janelas, que impossibilitavam a entrada de luz natural e visão da rua.
Fotos tiradas de residências pompeianas com imagens que representam paisagens ou construções com civis. Nota-se o cuidado com os motivos decorativos da época, como as colunas e frisos e capitéis.
O Trompe l’oeil não se limitava apenas as pinturas de paisagens em geral. Com o evidente realismo que se apresentava no resultado final, a mesma técnica era usada para reproduzir materiais construtivos, como o mármore e madeira com seus veios, relevos e sombreamento.
Com o passar do tempo e surgimento de muitos estilos, seja nas artes quanto no design e na arquitetura, o Trompe l’oeil também acompanhou a evolução se adaptando a traços mais suavizados, mas ainda mantendo vivas as técnicas que tiveram suas origens no século VIII. Em ambientes mais contemporâneos, a idéia do Trompe l’oeil é integrar a paisagem ao mobiliário, a fim de criar uma camuflagem entre os elementos ou muita distinção entre eles.
Seja na antiguidade clássica ou nos tempos de hoje, a história sempre nos ajuda a entender o nosso comportamento e a origem de todas as coisas. Porque não resgatar essa técnica de forma mais contemporânea e incorporá-la na tua casa? Deixo esse desafio para você!
Cilla Bonfim é formada em design de interiores pela Universidade Veiga de Almeida, trabalha com modelagem 3D de produto e presta consultoria social em interiores para pessoas com baixo poder aquisitivo. Desenvolve e disponibiliza material digital gratuito para arquitetos e designers de interiores, é amante de história da arte e do classicismo contemporâneo no design