03 junho 2023 
(Foto: Andre Mortatti / CASACOR)
A CASACOR São Paulo, uma das principais mostras de arquitetura, paisagismo, arte e design de interiores do país, abriu as portas na última terça-feira, dia 30 de maio. Tive o prazer de conferir os ambientes em primeira mão, durante um evento prévio para convidados, e garanto que a 36º edição está mesmo surpreendente.
Ainda que seja sediada no mesmo local de 2022, no Conjunto Nacional, os ambientes trazem novas leituras e abordagens ao edifício histórico, com ambientes mais elaborados e interessantes. O elenco deste ano teve como desafio o tema Corpo & Morada, e abordou temas que me tocam profundamente, como inclusão, diversidade e sustentabilidade.
Se você ainda não teve a oportunidade de visitar, programe-se até o dia 6 de agosto. Você não irá se arrepender! A seguir, separei 10 ambientes que me despertaram profundo interesse durante o circuito, tanto pela estética, quanto pelo significado. Espero que gostem!
Ciclos Deca, por Sig Bergamin
(Foto: Fran Parente / Divulgação)
Para comemorar os 30 anos de Deca na CASACOR, o arquiteto Sig Bergamin concebeu uma grande praça que convida a refletir sobre a evolução dos banheiros nas últimas décadas e a imaginar novas possibilidades para o futuro. Ao centro, um amplo espelho d’água concentra a singularidade dos metais em cascatas.
O espaço fluido de 420 m² concentra seis banheiros com os principais lançamentos do grupo Dexco. Como em uma linha do tempo, cada ambiente celebra cores e formatos que definiram épocas e, agora, apontam tendências. Os revestimentos das marcas Portinari e Ceusa complementam o piso Castelatto, em tons de verde. O projeto conta ainda com cinco mini-lounges e proporciona uma imersão biofílica com muitas plantas.
Morada do Samba, por Marcelo Salum
(Foto: MCA Estudio/CASACOR)
Embalado pela energia contagiante da música que povoa suas memórias de infância, o arquiteto Marcelo Salum homenageia a cultura africana neste projeto. Do colorido das fantasias de carnaval à alegria das rodas de samba – retratadas numa pintura de Luiz Pasqualini – o ambiente de 200 m² incorpora diversas referências.
Painéis de madeira reproduzem símbolos Adinkra, criados pelo povo Ashanti na África Ocidental, enquanto móveis desenhados por Marcelo e Frederico Cruz remetem aos emblemas presentes na obra do artista Rubem Valentim. A paleta de cores foi definida a partir dos pisos, revestidos com três modelos diferentes da Ceusa: Easy, em três tonalidades de coral e três de verde; Retrô, um ladrilho decorado, que remete às antigas fazendas; e Flakes, que remete aos confetes típicos do carnaval.
Casa Coral, por Ricardo Abreu
(Foto: Andre Mortatti / CASACOR)
Rosa é a cor predominante no projeto criado por Ricardo Abreu. Idealizado para uma mulher de 64 anos, mesma idade da personagem Barbie, o espaço exibe uma arquitetura lúdica e futurista, que faz referência ao universo do plástico da boneca. A Coral, assim como eu, é reconhecida por celebrar o uso das cores e o ambiente é uma provocação aos fãs dos tons neutros e pastéis.
Com recortes sinuosos e orgânicos, as paredes trazem um degradê rosado, representando as diferentes fases da vida. Fazem parte da paleta da sala as cores Tarde em Veneza (predominante nas paredes), Sapatilha e Flores Empoeiradas. Outro elemento em destaque são as duas grandes elipses presentes no forro, pintadas em um tom de vermelho fechado, o Vermelho Terra, que contrasta com o ambiente rosa e proporciona a sensação de um pé-direito mais alto.
A Casa do Ser, por ARQTAB e Maycon Fogliene
(Foto: Amanda Bibiano/CASACOR)
O desenho universal inspira o loft de 67 m², no qual as arquitetas Audrey Carolini e Thamires Mendes, do ARQTAB, em parceria com o arquiteto Maycon Fogliene, propõem uma reflexão sobre a democratização do uso dos espaços. A ideia é que diferentes tipos de corpos tenham autonomia para circular entre quintal, cozinha, salas de jantar e estar, quarto, home office e banheiro, projetados com soluções de acessibilidade.
Toda adaptada para atender às mudanças que vão surgindo ao longo da vida, a moradia atende pessoas com deficiências permanentes ou temporárias, como baixa mobilidade, cadeiras de rodas, tetraplegia, baixa estatura e obesidade. Nos acabamentos, destacam-se elementos que remetem à estética das casas de vila paulistanas dos anos 1980 com o intuito de despertar memórias afetivas e pertencimento no público.
KU’YA, por Gabriel Ramires, José Carrari Filho e Stephanie Ribeiro
(Foto: André Scarpa/CASACOR)
A palavra “”ku’ya”” vem do tupi-guarani e se aproxima do que nós, em português, chamamos de abrigo. Os arquitetos Gabriel Ramires, José Carrari Filho e Stephanie Ribeiro criaram um ambiente acolhedor e inclusivo, que celebra a diversidade e a cultura brasileira.
A decoração do espaço de 53 m² foi cuidadosamente planejada para expor a personalidade forte e determinada de quem o habita: uma mulher negra, independente e apaixonada por arte, que cria suas obras em casa, dança pelos ambientes e desfruta de um banho relaxante com um drinque. Para isso, os profissionais utilizaram materiais como madeira, cerâmica e sisal e adotou uma paleta que remete a tons de pele. A curadoria de obras de arte valoriza a produção feminina, com trabalhos de Gretta Sarfaty e Georgia Gabry.
CONFIRA: CASACOR SÃO PAULO ANUNCIA ELENCO PARA 2023
Espaço Motirõ, por Ester Carro
(Foto: André Mortatti/CASACOR)
Moradora e ativista da comunidade do Jardim Colombo, na zona oeste de São Paulo, a arquiteta Ester Carro enxergou a participação na mostra como uma grande oportunidade de expor essa realidade. Por isso, elaborou um projeto com alternativas para espaços pequenos que precisam acomodar famílias inteiras e muitas atividades.
O ambiente de 34 m² contempla hall de trabalho, banheiro com lavanderia, sala integrada à cozinha e quarto. A cama de casal, por exemplo, vem com um beliche solteiro. As intervenções do artista Waxamani Mehinako valorizam e resgatam grafismos quase extintos, em painéis exclusivos no mobiliário. Parte dos revestimentos está sendo aplicado por mulheres capacitadas pelos projetos Fazendinhando, Mulheres na Cor e Papelão Joia, que fortalecem a rede de mulheres na construção civil.
Casa Lider, por Figueiredo Fischer Arquitetos
(Foto: Ricardo Bassetti/CASACOR)
Gustavo Figueiredo e Lívia Fischer projetaram um loft de 150 m² repleto de cores e texturas que remetem à natureza. Tons terrosos, piso de cacos de granito rústico e painéis em madeira freijó lavada, combinados às paredes texturizadas, compõem um equilíbrio perfeito com o mobiliário de luxo da marca Lider. Na entrada, brises verticais recebem os visitantes e dão um spoiler do clima aconchegante que está por vir.
Casa Morada, por Barbara Dundes Arquitetura
Usar, de fato, cada canto da casa e mantê-la recheada de histórias é uma das premissas da arquiteta Barbara Dundes em seu espaço de 82 m². Piso de pedra, iluminação sutil, filtrada por telas tensionadas, forro de madeira e um bom punhado de memórias afetivas preenchem o ambiente.
Para isso, foram escolhidos dois padrões exclusivos da Criare, ambos inspirados na madeira freijó. Na entrada, fui surpreendida pela imponente porta de 3 m de altura: um muxarabi desconstruído, que permite a entrada de luz natural através das vidraças do Conjunto Nacional, criando uma atmosfera poética e convidativa.
Para integrar todo o ambiente, a arquiteta elaborou uma grande estante que abraça todo o espaço. Outro destaque que também utiliza a lâmina natural é a parede curva que separa a área social da área íntima, e faz referência ao corpo humano com suas curvaturas, nuances e volumes.
Refúgio Conexão, por Isabella Nalon Arquitetura e Interiores
(Foto: Rafael Renzo/CASACOR)
Com o propósito de ressaltar a textura dos materiais e a beleza dos objetos feitos a mão, a arquiteta Isabella Nalon imaginou uma caixa monocromática, no tom areia, projetada para estimular uma vida mais tranquila e saudável. O ambiente de 76 m² abriga um canto de leitura onde também é possível meditar, ouvir música e curtir os amigos.
Essas atividades são cercadas de muito aconchego graças à composição do décor, que reúne materiais naturais, como lã, juta, algodão, barro e palha. A divisória de palhinha, aliás, é um ótimo exemplo de uso sutil para as fibras, assim como os encostos das cadeiras. A naturalidade da madeira também pode ser conferida em toda sua magnitude e textura.
Mirante Paulista, por Catê Poli e João Jadão
(Foto: Evelyn Muller/CASACOR)
Plantas nativas exuberantes e muitas texturas compõem este jardim mirante de 150 m², elaborado por Catê Poli e João Jadão. Os profissionais, que já são presença garantida na mostra após cinco anos de participação, planejaram uma varanda onde os visitantes pudessem descansar e admirar o movimento da Avenida Paulista.
Ao brincarem com as formas e a disposição das espécies, cultivadas em vasos vietnamitas, o resultado foge ao óbvio. Sem a intervenção de obras, uma vez que o Conjunto Nacional é tombado como patrimônio histórico, o layout acompanha a sinuosidade do edifício, enquanto as plantas mais altas possibilitam encobrir e colocar em segundo plano paredões e esquadrias brancas. O piso original do edifício foi coberto por tapetes artesanais trançados a mão no tear com fios de PVC.
