Projetos urbanos sustentáveis, confira:
Telhados verdes, jardins de chuva, mata preservada, tintas ecológicas… Essas são apenas algumas das estratégias incríveis que temos visto, no Brasil e no mundo, com o intuito de diminuir o impacto ambiental da construção civil. Contudo, a arquitetura verde e sustentável cria uma nova camada na questão da desigualdade.
Uma pesquisa realizada pelo Urban Systems Labs, em Nova York, demonstrou que sem considerar a equidade, os projetos sustentáveis são mais uma forma de excluir as populações vulneráveis, incluindo comunidades de baixa renda e minorias, que sabemos serem mais suscetíveis aos desastres climáticos.
“Um grande problema com a infraestrutura verde é que os planejamentos desses projetos raramente levam em consideração a equidade e a inclusão”, afirma Timon McPhearson, ecologista urbano e diretor do Urban Systems Lab.
Depois de analisar 122 projetos urbanos de 20 grandes cidades dos Estados Unidos, incluindo Atlanta e Detroit, o ecologista e seus colegas concluíram que o planejamento está muito aquém do esperado para combater a desigualdade. Para esquivar-se das razões capitalistas, o estudo concentrou-se apenas em projetos supervisionados por governos municipais que, em tese, não têm interesses lucrativos.
Mais de 90% dos planos não usaram processos inclusivos para implementar infraestruturas sustentáveis, o que significa que as comunidades não tiveram a chance de expor suas necessidades neste processo. Além disso, apenas 10% dos planos identificaram causas de desigualdade e vulnerabilidade no público-alvo, o que torna impossível abordá-las em projetos futuros.
“Esses planos inadequados podem perpetuar as desigualdades existentes, parte de um legado contínuo de políticas historicamente racistas”, afirma Timon. Isso significa que as populações vulneráveis têm um acesso dificultado a áreas verdes, que aliviam o calor e a poluição, ou a novas formas de aproveitar os recursos hídricos. “A arquitetura verde é uma excelente forma de ajudar a resolver vários problemas urbanos, desde que foquemos onde há maior necessidade”, completa.
Mas ainda há esperança. Os pesquisadores identificaram três pontos a serem trabalhados neste sentido. Primeiro, os planejadores urbanos precisam definir claramente a equidade e a justiça nos documentos que orientam seu trabalho. Depois, manter as comunidades informadas e apoiar sua participação ao longo do planejamento, tomada de decisão e implementação. E os planos precisam considerar causas atuais e potenciais de desigualdade, reconhecendo as fontes de gentrificação e identificando como a infraestrutura verde pode contribuir para isso, por exemplo.
“Se a equidade não está centrada em seus planos, então, a iniquidade está. Você poderia estar fazendo mais mal do que bem”, analisa.